Nasci com uma chave para gostar de bichos. Sempre gostei de pegá-los, ficar com eles no colo. Tinha uma galinha de estimação quando criança, não deixava ir para a panela. Para quem gosta de animais, o primeiro instinto é tê-los por perto. Existe esse hábito no Brasil, mas também muita desinformação. As pessoas veem animais à venda na feira e não sabem a diferença entre espécies domésticas e silvestres. Não sabem por que pode ser ilegal, até imoral, comprar espécies silvestres e mantê-las confinadas. Elas têm função ecológica. Passarinho, azulão, trinca-ferro... Estamos tirando da natureza animais que espalham sementes, ajudam no equilíbrio fitoecológico. São animais que, inclusive, podem ser predadores de pestes. A pessoa comum não tem essa dimensão. Pensa: “Quero ouvir o canto dele, qual é o problema?”.
Não sou ornitóloga, sou geneticista, mas na ONG Freeland Brasil trabalhamos muito com o tema das aves silvestres, porque elas representam o maior volume de espécies traficadas no país. Temos problemas também com macacos, esquilos, iguanas... Em 2018, aprendi muito com as espécies silvestres. Pensando tanto no contexto da conservação quanto no da política atual, acho que a lição mais importante do ano é a relevância da liberdade. Falo no âmbito pessoal, profissional e também no dos animais. Tivemos colegas conservacionistas impedidos de expor opinião, ameaçados, pressionados.
Essa não é só uma questão de “abraçadores de árvores”, como dizem. No tema ambiental, quando se erra, pode não haver volta. Estamos impactando a saúde de ecossistemas que precisam estar saudáveis para manutenção de água, polinização de agricultura, manutenção de nascente, prevenção de erosão...
De acordo com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) , quando se coleta um animal da natureza, seja vivo ou caça, muitos outros animais em volta são afetados. Se a coleta é de um adulto, por exemplo, o filhote morre. Outros fogem feridos. Todo esse impacto retiraria da natureza brasileira 38 milhões de animais por ano. Não é um número exato, mas não acho que seja absurdo.


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