Perdido em demagogias, Weintraub deixa escapar que seleção é injusta mas defende modelo, pede volta às aulas nas escolas e esquece ensino a distância nas universidades.
No habitat natural a gente de seu nível, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou à Jovem Pan que “vai morrer muito menos do que 40 mil brasileiros (…) sendo que as pessoas que vão morrer de coronavírus são mais idosas”, supostamente, como justificativa à posição defendida pelo bolsonarismo de que as quarentenas decretadas por municípios e estados foi precipitada e precisa ser encerrada. A declaração em si é revoltante, e não apenas Weintraub mas todo o gabinete de Bolsonaro (incluindo, claro, o próprio) é digno de todo ódio que um ser humano normal é capaz de sentir por esta ralé burguesa. No entanto, por enquanto ao menos, este autor fará um esforço para manter a cabeça fria e debater com os leitores, especialmente a juventude a quem nos dirigimos com especial atenção neste espaço, um posicionamento político para o enfrentamento.
Falando português claramente, Weintraub está pouco se lixando se cerca de 48,4 milhões de estudantes da educação básica serão infectados pelo coronavírus, especialmente os mais de 39 milhões que estudam na rede pública de ensino básico, que compreende o ensino fundamental e médio, e ainda, o ensino voltado a jovens e adultos fora da idade regular destas duas etapas.
Para estes, vale a mesma lógica odiosa de Bolsonaro em relação ao conjunto do segmento social que precisa dos serviços públicos, “vão morrer, vida que segue”. Destilando demagogia venenosa, o “imprecionante” ministro diz que verbas foram liberadas pelo governo federal para a alimentação das crianças pobres, e não serão usadas graças à imposição da quarentena por governos estaduais, municipais e distritais. Ora, se a preocupação do ministro com a segurança alimentar dos alunos fosse genuína, a logística da distribuição não seria nenhum impeditivo. Como a preocupação é mentirosa, Weintraub se limita à exercer sua mais nojenta demagogia.
Há que se destacar ainda que Weintraub mente ao dizer que falta sensibilidade a quem pede aos estudantes para acompanhar as aulas online. O ensino a distância (EAD) no ensino superior (publico e privado) e colégios federais como o Pedro II, foi exatamente a primeira medida adotada pelo regime golpista, cerca de 3 semanas após os primeiros casos começarem a ser divulgados no Brasil. Assim, não devemos levar a sério uma vírgula sequer do que Weintraub diz mas estar atentos à política implementada por ele para atender ao projeto defendido por Bolsonaro.
Nesse sentido, a fala de Weintraub é reveladora da política para as universidades por que a rede básica precisa voltar a normalidade mas o escatológico ser não defende o mesmo para seu principal campo de atuação: o ensino superior. Claro que o ministro é um cavalo mas não é bobo. Com os testes sendo realizados e a completa falta de reação por parte das principais lideranças do movimento estudantil brasileiro, com especial destaque à paralisia da UNE, Bolsonaro e Weintraub conseguiram, enfim, o que a direita de conjunto vinha tentando desde o golpe de 2016: implementar o EAD para sucatear o ensino superior (num primeiro momento) público brasileiro com uma brutalidade inédita na história da educação nacional.
Após mais de um mês de ataques em diversos campi de muitas universidades públicas, de norte a sul do país, fica evidente que a direção conservadora da UNE não vai se posicionar, sequer para esclarecer os estudantes, sobre a severa ameaça que paira sobre aqueles que mais precisam da universidade pública e do espaço universitário. É preciso uma ampla e enérgica mobilização dos estudantes para barrar esse ataque e exigir a suspensão do calendário acadêmico, o que envolve a criação de comitês de luta com os setores mais dispostos do movimento estudantil, para agitar os demais companheiros e pressionar a burocracia universitária onde o confronto for necessário. É preciso ainda que a luta inclua, além da suspensão do calendário, o cancelamento definitivo dessa forma abjeta de competição por vagas na universidade pública. Perdido em meio a seus rompantes de demagogia, Weintraub acabou cometendo o que poderia ser chamado de ato falho, ao dizer, em dado momento da entrevista, que “o Enem não é 100% justo”. Ora, o que não é 100% justo, é injusto. E de fato, o Enem e os exames de acesso ao ensino superior baseado em seleção são execráveis. Um movimento estudantil com a cabeça no lugar não deveria lutar pelo adiamento do Enem mas pela suspensão dessa forma classista de acesso ao privilegiado espaço da universidade.
Os fascistas deixaram claro que aproveitarão qualquer oportunidade mínima para atacar a educação pública e, sobretudo, o movimento estudantil. Os estudantes podem e devem dar combate ao avanço do fascismo e os ataques da direita golpista contra as universidades, na forma como a luta se apresentar, com as armas que a situação exigir, cientes de que a força dos números se impõe na luta. O importante é sair da pasmaceira e agir pela construção dessa mobilização.