No dia 9 de fevereiro de 1600 foi emitida a sentença de morte, pela Inquisição de Roma, de Giordano Bruno, após a conclusão do seu processo e a confirmação, pelo papa Clemente VIII, da sua heresia.
Chegou deste modo ao fim um longo processo de investigação, argumentação e violento debate sobre os trabalhos e as ideias de Giordano Bruno, que se arrastou durante sete anos e no decorrer do qual o acusado esteve encerrado em cativeiro. Ficou célebre a frase com que respondeu à leitura do veredito: “tendes talvez mais medo, vós que pronunciais essa sentença, do que eu que a recebo”.
A 17 de fevereiro, foi levado para uma praça no centro de Roma e atado nu a um poste com a sua boca amordaçada para evitar que proferisse palavras com a sua violência habitual. Foi queimado vivo porque se recusou a abjurar as suas posições e desviou a vista do crucifixo que então lhe foi apresentado. As suas cinzas foram posteriormente lançadas ao rio Tibre e as suas obras foram colocadas no índice de livros proibidos da Igreja Católica.
- Quem era Giordano Bruno e por que foi condenado?
Giordano Bruno nasceu em 1548 em Nola, perto de Nápoles, onde estudou e posteriormente foi admitido na Ordem Dominicana. Viajou por Itália, Inglaterra, Alemanha e França, onde ensinou em várias universidades. Ao longo da sua vida, Giordano Bruno escreveu um extenso rol de obras de filosofia, poesia e matemática, onde expôs um conjunto elaborado de teorias sobre o Universo, Deus e a Humanidade que foram consideradas heréticas pelos padrões do pensamento daquela época.
Entre outras ideias, Giordano Bruno negava diversos dogmas da Igreja Católica como a divindade de Jesus Cristo, a virgindade de Maria e a Santíssima Trindade. Era igualmente adepto da teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico, que defendia que a Terra girava em torno do Sol e não o contrário. Esteve, portanto, envolvido em constantes debates e polémicas que lhe valeram ameaças e perseguições. Era, sobretudo, um livre-pensador, cuja rebeldia intelectual lhe valeu a excomunhão da igreja católica, depois da calvinista e finalmente da luterana e, em última análise, a prisão e condenação à morte.
- Que impacto tiveram a sua vida e obra?
Giordano Bruno foi remetido a um quase esquecimento após a sua execução, onde permaneceu durante os séculos seguintes. As suas ideias e obras foram redescobertas no século XIX e a sua figura passou a ser celebrada como um exemplo de liberdade de pensamento e de coragem perante o obscurantismo e a opressão intelectual da sua época. Foi considerado como um precursor da ciência moderna, nomeadamente pelo caráter revolucionário das suas ideias sobre um Universo infinito.
Uma análise mais profunda das suas obras, levada a cabo mais recentemente, revelou contudo um pensamento bem mais complexo: Giordano Bruno era um ocultista e astrólogo e escreveu tratados de magia e alquimia, afastando-se portanto da imagem do herói do pensamento científico que adquiriu no século XIX. A Igreja Católica, apesar de lamentar a repressão violenta que vitimou Bruno, nunca negou a validade do seu julgamento e condenação. Giordano Bruno permanece, assim, como uma figura ímpar e controversa na história da filosofia e da ciência ocidental.
fonte:ensina.rtp.pt/