Foto: Jefferson Peixoto/Secom PMS |
O passo a passo da luta que guiou o povo baiano à vitória pela liberdade do jugo português, em 2 de Julho de 1823, é o tema central de painéis pintados em muros dos bairros de Pirajá e do Barbalho, palco de batalhas importantes para o êxito brasileiro nas guerras da Independência. O apoio mútuo e miscigenado de brancos, índios e negros são representados em imagens, cores vivas e emoção. As armas: pincéis, brochas, tintas, criatividade e trabalho duro. Os heróis, um time formado por 11 artistas urbanos, dedicados ao grafite e à arte de rua na capital baiana.
Todas as peças têm o cuidado de apresentar um código QR com audiodescrição, para facilitar a vida de pessoas com baixa visão ou deficiência visual, disponibilizando todo o roteiro da história narrada nos painéis, seus nomes e o que representam. Anderson Santos, Isabela Seifarth e Ludmila Lima (em duo), Lee27, Mônica Reis, Rildo Foge e Tárcio V exibem seus trabalhos no bairro do Barbalho. Chany Duscio, Pipino, Samuca Santos e Uillian Novaes ficaram responsáveis pela arte nos espaços de Pirajá.
Intitulada "2 de Julho - Povo Independente", a exposição a céu aberto dos painéis do 2 de Julho é apoiado pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), a partir de convites realizados aos artistas para desenvolver o trabalho em parceria. Os participantes enviaram propostas cheias de referências histórias e simbologias relacionadas ao 2 de Julho, oferecendo ainda mais vida e cor às ruas, além de trazer conhecimento sobre essa história, ampliando o senso estético da população soteropolitana e turistas sobre a Independência do Brasil na Bahia.
Localização – Em Pirajá, as obras estão em torno da Praça General Labatut e da Paróquia de São Bartolomeu. Nas paredes estão representados os Encourados de Pedrão, o Corneteiro Lopes, Maria Quitéria, Joana Angélica e Maria Felipa.
No Barbalho, a história ressurge com representações das três grandes heroínas: Felipa, Angélica e Quitéria. No local também pode ser observada a miscigenação do povo lutando contra a opressão portuguesa, com representação das três raças, além dos feitos das três grandes personagens femininas, com a defesa da Abadia da Lapa, a queima dos navios em Itaparica e a bravura de Maria Quitéria representando a força feminina no Exército brasileiro. O local também estampa as figuras simbólicas do Caboclo e da Cabocla.
Artistas – Para Rildo Foge, o convite e a seleção para o projeto de murais foram um reconhecimento ao trabalho de mais de três décadas. "Acho muito importante poder desenvolver esse trabalho para comemoração do dia 2 de Julho. Procurei representar as mulheres que tiveram um papel importante na Independência. Para mim é importante estar participando desse projeto com outros artistas. Dessa forma, há uma troca de experiência e de conhecimento ao representar um tema desse tamanho", diz.
Tarcio Vasconcelos, mais conhecido como Tarcio V, celebra a possibilidade de participar do trabalho com painéis e com a temática da Independência. "Eu quis homenagear os caboclos, que são os verdadeiros donos dessa festa, pois representam o povo da terra. Então, surgiu essa oportunidade e eu trago esse recorte da história no painel, com o caboclo como referência, simbolizando o que há de mais popular na cidade", explica.
Ludmila Lima, que divide o painel “2 de Julho: Vitória do Povo” com Isabela Seifarth, explica que o convite para participar foi motivo de alegria para a dupla. "A escolha do tema e nossa participação é uma forma de eternizar nossa arte fazendo parte da história da cidade, representando aquilo que é o 2 de Julho, ao trazer o povo como representantes e protagonistas desse momento tão importante. Em nossa arte focamos nas heroínas da Independência e na grande mistura de raças que culminou nesta grande vitória".
Sobre os artistas – Anderson Santos é pintor e trabalha principalmente com o óleo sobre tela, cartão, madeira, e desenhista, utilizando o grafite ou o carvão sobre papel, e destes dois caminhos desenvolvendo pintura e desenho digital, adaptando a técnica tradicional para a nova realidade digital. Graduado em Artes Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) em 1999, expôs nas principais capitais brasileiras, mas também na Itália e Estados Unidos.
Já Isabela Seifart é uma artista visual que trabalha sobretudo criando narrativas transmitidas através da pintura. Sua pesquisa permeia o universo das tradições da Bahia e do Recôncavo Baiano, incluindo seus acervos materiais e imateriais. Ludimila Lima é aquarelista que se inspira em seus ancestrais. A tatuadora e empreendedora iniciou a trajetória no mundo da arte através de desenhos, grafite e pinturas em tecidos.
O artista visual e educador Lee27 é um dos pioneiros no país a inserir elementos de matriz africana no grafite, como orixás e pinturas negras, destacando principalmente a regionalidade baiana e a cultura do Recôncavo. Mônica Reis é uma das artistas pioneiras do graffiti feminino na Bahia, tendo iniciado os trabalhos como grafiteira em 2005, desenvolvendo a arte das tintas nos muros da cidade. É Integrante dos grupos de grafiteiras Toque Feminino Crew.
Vindo do sul da Bahia, o artista plástico e muralista Rildo Foge ficou conhecido por retratar os tempos áureos nos muros de Ilhéus em grafite. Trabalha desenvolvendo oficinas em instituições e bairros, em cidades diferentes, retratando a cena do movimento urbano através das artes visuais.
Um dos principais expoentes do grafite na Bahia, o artista visual, ilustrador e grafiteiro Tarcio V iniciou a trajetória artística em 2004. Soteropolitano, tem como fonte em seu trabalho a forte relação com a cultura popular e religiosidade afro-brasileira.
A artista plástica argentina residente na Bahia, muralista e professora de artes visuais Chany Duscio iniciou os trabalhos como grafiteira em 2005, sendo uma das pioneiras entre as mulheres de Salvador a desenvolver a arte das tintas nos muros da cidade. Também integra o grupo de grafiteiras Toque Feminino Crew.
Natural da cidade baiana Amélia Rodrigues, Pipino é artista plástico, desenhista e grafiteiro. Influenciado pela natureza morta, cultura popular e tradição nordestina, ele tem se destacado pela capacidade de capturar a essência vibrante do cotidiano das feiras livres e das paisagens rurais e urbanas da Bahia. Já Samuca Santos, natural de Salvador, é artista visual graduado pela Escola de Belas Artes da Ufba, grafiteiro e educador e, desde o ano de 2003, atua na cena urbana da capital baiana.
Por fim, o artista plástico nascido em Maracás (BA), Uillian Novaes, é formado em Belas Artes pela Ufba. Divide seu tempo entre produções de pinturas, gravuras, ilustrações e esculturas. Ao transitar por linguagens artísticas distintas, da escultura até a tatuagem, tem o desenho como fio condutor de suas expressões que possibilita registrar em cada linguagem suas características próprias.