Por Marcius Piropo, o peso pesado da notícia
A análise política exige coragem para ir além do senso comum. Minha visão é que o cenário nacional atual é regido por dois fatos incontestáveis: a desunião da direita é o maior presente de Lula, e o 8 de Janeiro não foi um golpe planejado, mas sim um ato de frustração contra a própria liderança.
A Divisão da Direita: O Combustível da Esquerda
O Presidente Lula tem o caminho livre para crescer em aceitação popular – como vimos em sua recepção calorosa no show de Maria Bethânia e em sua estratégica aproximação de católicos e evangélicos – simplesmente porque a oposição está em guerra civil.
A direita se esfacelou em uma disputa fratricida de egos e poder:
- De um lado, a disputa entre Flávio, Eduardo e Michelle Bolsonaro sobre quem deve ser o sucessor ou a liderança;
- De outro, a falta de um projeto unificado.
Essa fragmentação desvia o foco da fiscalização do governo, neutraliza a crítica e impede a formação de uma alternativa crível. Enquanto a esquerda se une taticamente, a direita gasta sua energia em lutas internas, pavimentando o caminho para o fortalecimento contínuo do atual governo.
O 8 de Janeiro: Grito de Desespero, Não Tentativa de Golpe
É crucial desmistificar o 8 de janeiro. Na minha visão, o que houve em Brasília não foi uma "tentativa de golpe militar" articulada pela cúpula, mas sim o grito desesperado de uma base eleitoral radicalizada que se sentiu abandonada pelo seu próprio líder.
Os eleitores mais radicais de Jair Bolsonaro ficaram profundamente frustrados:
- Eles viram o líder aceitar a derrota e partir para os Estados Unidos.
- Eles esperavam que ele ficasse no Brasil, liderasse a contestação ou, de alguma forma, impedisse a posse.
- Ao invés de um líder golpista, eles encontraram um ex-presidente em férias.
Os atos de quebra-quebra no dia 8 de janeiro foram, portanto, um ato de revolta e desespero não apenas contra o sistema e o governo eleito, mas, em grande parte, uma demonstração de decepção com o próprio Bolsonaro, que lhes virou as costas ao não atender às expectativas radicais de ruptura. Foi a frustração de uma base que viu sua liderança ir embora e sentiu que não havia golpe a ser dado porque a principal figura da direita já havia aceitado a derrota.
A Liberdade para Analisar a Verdade
A capacidade de fazer uma análise política tão franca sobre o 8 de janeiro e a divisão da direita só é garantida pelos alicerces da nossa democracia.
É o Artigo 220 da Constituição Federal que assegura a livre manifestação do pensamento e a liberdade de imprensa. Da mesma forma, a decisão histórica do STF na ADPF 130 reafirma que não pode haver censura para o "peso pesado da notícia" expor essas verdades, por mais incômodas que sejam.
A realidade é que, enquanto a direita se divide e se frustra, a esquerda agradece e governa.