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O erro de português é realmente um erro?

E se tudo o que aprendemos sobre o que é saber a língua portuguesa fosse, na verdade, inconvenientes desenvolvidos por preconceitos infiltrados desde os primórdios de nossa sociedade? E se a língua que se afasta das normas cultas fosse, na realidade, tão correta como a usada entre a elite intelectual? E se o que nos ensinam nas escolas, sobre a necessidade de aprender a gramática, não contribuísse, eficientemente, para o nosso letramento? Essas foram algumas das questões abordadas no livro Preconceito linguístico de Marcos Bagno que li recentemente para desvendar os mitos de nossa língua e como esses contribuem para a disseminação do preconceito linguístico em nossa sociedade.
Muito se acredita que a língua portuguesa só é digna se fizer parte das normas padrões, designadas como o modo “certo” de se expressar. Os puristas, que defendem assiduamente a norma culta, tendem a considerar o português de Portugal como superior ao que é falado no Brasil. Essa ideia não é somente preconceituosa, como provém da concepção ultrapassada de que a cultura europeia prevalece sobre a cultura brasileira, já que fomos colonizados pelos falantes do português “puro”. Levando em consideração essa péssima interpretação do que é certo e do que é errado, os brasileiros acabam por acreditar que as variedades linguísticas são erros inaceitáveis e merecedores de juízos de valor.
A visão errônea de que toda e qualquer variação na língua é desmerecedora de respeito nos leva à problemática da marginalização de grupos sociaismenos favorecidos por não terem recebido a mesma instrução que as elites intelectuais receberam. Ademais, a variedade cultural que constitui o Brasil, composta por diferentes sotaques e diferentes formas de falar uma mesma palavra desenvolvem outro tipo de preconceito linguístico. Os comandosparagramaticais, como menciona Bagno em seu livro, ajudam a perpetuar a compreensão de que existem modos de falar mais nobres do que outros. Esses comandos são basicamente todos os livros, manuais de redação dos jornais, programas de rádios e todas as mídias que retomam e propagam os velhos mitos da língua ao invés de os desconstruir. Por esse motivo, acabamos nos designando como fracassados da língua, por achar que por não saber determinadas regras gramaticais somos menos dignos de apreço.
A falta de apreço é uma ideia difundida também nas salas de aula. Somos ensinados, desde o nosso ensino básico, a decorar o valor sintático das palavras e simplesmente aceitar isso como o princípio para ser bom entendedor da língua. Essa forma de ensino está muito mais do que ultrapassada. Marcos Bagno comenta em seu livro que, assim como outras ciências que estão a todo momento refutando conhecimentos confiados como verdades no passado, a Língua Portuguesa precisa contradizer essa necessidade de forçar os alunos a assimilar as regras gramaticais e começar a ensinar a interpretação dessa língua, os fazendo entender como usá-la e não apenas o porquê de usá-la. Os professores precisam desmistificar a ideia do erro dentro da língua materna, até porque muitos estudantes chegam na escola sem nenhuma bagagem gramatical e apontar para o modo com que falam como uma falha ou um defeito acarreta não só em confusão, mas em insegurança e perda de autoestima.
A língua é diversa, multicultural e muda conforme a vivência de cada ser humano. Considerar as variações linguísticas como um erro é descreditar o conhecimento de seus falantes e excluir toda a história de um ser humano. Precisamos parar de supervalorizar a norma culta e passar a aceitar outras formas de expressão que não se encaixam nas gramáticas. Em segunda instância, devemos desconstruir a ideia de erro dentro de uma língua, aplicando isso em sala de aula. E sim, a norma culta precisa ser ensinada, mas antes necessitamos da interpretação e compreensão e depois dos termos técnicos. O ensino da norma padrão ainda é uma aquisição de poder em nossa sociedade, por isso ao invés de julgar os que não a possuem, precisamos incluir os que sofrem as consequências diretas, sendo esses a maior parcela da população brasileira, por não fazerem parte desse sistema.
Texto baseado no livro “Preconceito linguístico: o que é, como se faz” de Marcos Bagno.


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