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Projeto resgata memórias e reconstrói a história do teatro baiano em galeria virtual


Projeto resgata memórias e reconstrói a história do teatro baiano em galeria virtual 

A partir de uma curiosidade despretensiosa, em 2019, o ator, diretor e dramaturgo teatral João Guisande decidiu reunir um mosaico de memórias e se debruçar na história das artes cênicas da Bahia. Na ocasião, ele perguntou a artistas, pessoas do meio e espectadores qual era a primeira memória que tinham do teatro baiano. 

 

Depois de realizar uma série de entrevistas que contou com nomes proeminentes da cena como Harildo Déda, Frank Menezes e Onisajé, Guisante ficou empolgado com o resultado e concluiu que gostaria de desenvolver algum projeto com o material coletado. O tempo passou, chegou o ano de 2020 e a pandemia do novo coronavírus, que desestabilizou toda a classe artística, mas não abalou os propósitos do dramaturgo.

 

“Foi aquele baque para todos nós. Nós artistas tivemos que ficar em casa sem palco, sem público, mas eu continuei a trabalhar e aproveitei para intensificar a pesquisa através das redes sociais. Comecei a provocar as pessoas no Facebook, Instagram, mandar mensagens de WhatsApp. E aí surgiram novas perguntas: ‘Qual é sua memória mais viva do teatro da Bahia?’ e ‘O teatro da Bahia existe?’”, lembra o João Guisande, que ao longo do ano passado recebeu mais de 100 depoimentos através de textos, áudios e vídeos. 

 

O rico apanhado de lembranças, aliado ao interesse de compreender a construção coletiva do imaginário e da origem da expressão “teatro baiano”, motivou a criação da galeria online “Memórias do Teatro da Bahia”, com lançamento previsto para a próxima sexta-feira (5). “Você vai em São Paulo e não existe teatro paulista. Eu nunca ouvi falar em teatro carioca, mas teatro baiano a gente mantém aqui essa raíz”, pontua o dramaturgo, segundo o qual o termo cunhado é “bairrista”, mas positivo. “Esse termo começa a surgir lá atrás, quando nosso teatro começa a se profissionalizar, e nas décadas de 1930 e 1940 as companhias teatrais que vinham pra cá eram do Sudeste e do Sul, e eles chamavam de Sul Maravilha, porque havia um imperialismo cultural vindo do Sudeste. Então, quando nós começamos a nos profissionalizar, essa identidade veio, acho que contra esse imperialismo teatral do Sudeste, pra se afirmar mesmo no meio profissional”, contextualiza.

 

Para abrir o projeto da plataforma digital, às 18h30 do dia 5 será transmitida, ao vivo, pelo Youtube, a leitura dramatizada do texto “Quem Somos Nós”, escrito e dirigido pelo próprio Guisande, a partir dos depoimentos recolhidos por ele em sua pesquisa e do “potencial dramatúrgico” do material. “Comecei a fazer colagens e tentar construir um texto dramático. Convoquei cinco atores [Bárbara Laís, Fernanda Beltrão, Fernando Antônio, Iana Nascimento e Marcos Lopes], nós íamos lendo os depoimentos, e aí nasceu o texto ‘Quem somos nós?’, que são os cinco jovens que têm essas memórias e que querem montar um espetáculo com elas”, explica o artista sobre o processo de criação da obra, que leva ao palco virtual a fictícia companhia de teatro VIXE, cujos integrantes estão prestes a estrear seu primeiro espetáculo.

 

Todo este enredo foi construído por meio dos relatos feitos durante a pesquisa, que abordaram desde personalidades do teatro local e montagens marcantes, até histórias de bastidores, como um causo ocorrido nos anos 1990. “Vou contar uma história de bastidor de um espetáculo de 1990, ‘O Beijo no Asfalto’, de Nelson Rodrigues, em que Harildo Déda estava em cena com Ricardo Castro e Andrea Elia, e aí tem uma cena que ele usava uma arma, ele tinha que atirar e ela falhou”, revela Guisande. “Tenho um depoimento lindo de uma pessoa que estava na plateia e viu o desespero dele tentando atirar sem conseguir. E aí, de repente, ele jogou a arma pro lado, foi em direção ao cara e enforcou, até ele cair no chão. Ele mudou totalmente a cena e a plateia aplaudiu e achou genial a ideia que ele teve, a rapidez de resolver a cena”, lembra o dramaturgo. “O teatro é assim e a gente tem que lidar com o inesperado. Estamos lidando agora com o inesperado da pandemia, mas o teatro resiste”, afirma.

 

Depois da transmissão ao vivo, esta leitura dramatizada ficará disponível ao público na plataforma digital “Memórias do Teatro da Bahia” , que até o dia 10 de abril passará a ser alimentada com outras ações do projeto. Integrarão o acervo um podcast, um docudrama e duas exposições, sendo uma sobre o Teatro Sesi Rio Vermelho e outra do designer gráfico Belmiro Neto, com artes gráficas criadas em seus mais de 25 anos de colaboração à arte teatral baiana.

 

“Nós vamos ter seis entrevistas em podcast com criadores baianos, com temas variados, como dramaturgia, espetáculos do interior da Bahia, e a mulher na produção teatral”, conta Guisande, sobre a iniciativa, prevista para sair em fevereiro. "Também vamos fazer um docudrama com cinco episódios, levando o teatro para o audiovisual. Eu vou dirigir junto com Ronei Jorge, que é conhecido por ser cantor e compositor, mas que também é cineasta e faz trilhas sonoras e direção musical para teatro”, explica o dramaturgo. 

 

Com episódios lançados semanalmente a partir de 22 de março, o docudrama reúne Bárbara Laís, Fernanda Beltrão, Fernando Antônio, Iana Nascimento, Marcos Lopes e Luisa Muricy para interpretar as histórias e vivências de espetáculos e artistas marcantes no imaginário do teatro da Bahia.


por Jamile Amine

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