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CULTURA: Em websérie, Márcia Short passeia por sua história e reivindica espaço da arte negra


Em websérie, Márcia Short passeia por sua história e reivindica espaço da arte negra

Caminhando para completar 35 anos de carreira na música em 2022, com passagens pelas bandas Papa Léguas e Banda Mel, a cantora baiana Márcia Short lança, neste domingo (11), um novo projeto audiovisual, intitulado “Papo de Arte Negra”. Neste mesmo dia, às 18h, a artista realiza um bate-papo ao vivo sobre a produção, em seu perfil no Instagram, antes do lançamento do primeiro episódio. Classificada pela artista como um “passeio” por sua longa trajetória e suas “formas de existir”, a série terá seis episódios lançados no Youtube e conta com a participação do amigo e parceiro Lazzo Matumbi.

 

“A websérie é uma parceria com Urânia Munzanzu, uma cineasta negra, atenta a essas pautas. Ao longo de um coletivo que nós formamos, discorrendo sobre esses temas, ela teve a ideia de inscrever o projeto no Programa Aldir Blanc Bahia”, conta Márcia, sobre como nasceu a iniciativa que, a partir de relatos pessoais da cantora, colocará em pauta questionamentos muito presentes em sua tragetória como a luta por igualdade e oportunidades para os artistas negros, sobretudo na Bahia.

 

De antemão, ela esclarece que as reivindicações e todo o discurso por trás do projeto não se tratam de “queixas”, mas de “reparação” e ocupação de espaços. “É sobre uma realidade que a gente vem ensaiando há anos e que agora os artistas negros precisam avançar nessa direção”, pontua Márcia, admitindo ser uma missão “espinhosa”, por envolver questões que “atravessam a alma” e paralisam. 

 

“Porque o racismo é isso, é uma estrutura que tem como objetivo silenciar, paralisar, bloquear, então discorrer sobre esses temas não é fácil. Mas a gente precisa contar nossa história e avançar pra essa conquista, para que nós e os que venham depois tenham histórias mais leves pra contar”, pondera. 

 

A websérie remonta história de Márcia Short, desde a infância, e lembra passagens importantes na trajetória da cantora, como a passagem pelo Carnaval, as novas influências e a carreira solo | Foto: Madson Silva / Divulgação

 


A WEBSÉRIE
Lançados diariamente até 16 de julho, os seis episódios de “Papo de Arte Negra com Márcia Short” são classificados pela artista como uma “história contada e cantada” sobre seus mais de 30 anos de trajetória na música e as agruras do “fazer artístico de uma mulher preta”. 

 

Uma das dificuldades citadas por ela é um imbróglio que se arrasta na Justiça há décadas . “Há 28 anos - que é o tempo que tem que eu saí da Banda Mel e que costumo dizer que eu disse 'não' a um sistema que me agredia muito -, chegou uma hora que eu não tinha mais nada pra fazer alí. E quando eu saio, tentando pegar o resultado daquele trabalho e trazer pra minha vida, são vários nãos desde então”, relata a cantora. “É muita resistência. É você dizer não a um sistema e ele dizer, ‘então você não vai viver sem mim’”, denuncia Márcia.

 

A websérie abordará ainda um pouco da história do Carnaval, onde a trajetória profissional da cantora teve início, até a guinada, em carreira solo. “A gente fala dessa relação com os compositore e com essa vertente da música menos voltada para o entretenimento, que é o que Saul Barbosa trouxe pra minha vida, como Roberto Mendes, Lazzo, Jorge Portugal, Vevé Calazans, Gerônimo, Jota Veloso... São compositores que vêm fomentando esse movimento de eu me afirmar enquanto cantora, enquanto intérprete”, conta Márcia Short. “É um passeio por esses mais de 30 anos de carreira e essas formas de existir. Como é que eu cheguei até aqui”, resume.

 

Um dos destaques é o episódio com participação de Lazzo Matumbi. “É o mais longo, impossível não ser, né? (risos). A gente fala sobre esse racismo estrutural, sobre essa negação, o preconceito histórico com o artista negro da Bahia, que produz a música da Bahia, e também as suas formas de resistência”, revela a artista. 

 

Além do papo sério sobre os temas citados anteriormente, no encontro cabe também saudosismo e muita música. “A gente canta, fala de como a gente se conheceu lá no Engenho Velho de Brotas. É uma parte que fala do começo da minha carreira, da relação dele com a música, comigo, e essa visão que a gente tem daqui do nosso ponto. De como é que as coisas estão. E a gente vê como as histórias se costuram, da necessidade da gente estar junto para resistir”, explica.

 

O público poderá conferir ainda passagens sobre a infância de Márcia Short, declarações sobre suas influências musicais e o resultado de tudo isso hoje, além de suas perspectivas para o futuro, almejando um ambiente de “mais igualdade, justiça social, autonomia e de devolutiva financeira justa”. Questionada sobre a crença em um amanhã mais otimista, ela respondeu com pragmatismo: “Tenho uma perspectiva de muita luta, e a gente não entra em luta pensando em perder. Então, há sim positividade nessa perspectiva, mas consciente de que a gente vai ter que ir pra cima”. 

 

“Papo de Arte Negra" tem apresentação e produção executiva da própria Márcia Short; produção, roteiro e direção de Plínio Gomes; direção artística de Gil Alves e direção de fotografia de Gabriel Teixeira. 

 

O episódio mais longo tem a participação do amigo Lazzo | Foto: Caio Lírio 

 

 

PANDEMIA, O VIRTUAL E AS OPORTUNIDADES
Depois do sobressalto com a chegada da pandemia, que também lhe paralisou em um primeiro momento, a websérie é mais um dos projetos virtuais desenvolvidos por Márcia Short no período. "Eu cresci muito. Passando o susto, o impacto, tive a oportunidade por exemplo de trabalhar com o audiovisual, que é apaixonante, é um mundo novo pra mim. Então, as lives e todo este momento, dentro da realidade do artista alternativo, independente, vem sobretudo pra gente ter um registro de todas essas coisas que a gente vem dizendo e projetos que estavam adormecidos, sem oportunidades”, avalia a cantora, que diz acreditar que o virtual veio para ficar. 

 

Dentro desta proposta, ela cita algumas iniciativas realizadas em ambiente virtual e aponta para possibilidades futuras. “Na hora que tudo aconteceu eu não tive cabeça pra criar nada, então eu refiz alguns projetos, eu pude fazer o registro bonito do ‘Sapoti’, que é um projeto que eu estreei em 2013”, lembra Márcia, sobre o show em homenagem a Angela Maria. Outra iniciativa da artista foi a live "O amor e criação”, compilação da obra de Saul Barbosa, com vários compositores da terra, “trazendo para os dias de hoje a obra de Vevé [Calazans] - já falecido -, e músicas de Jaime [Sodré] e de Jorge Portugal”. 

 

Segundo Márcia, estes trabalhos possibilitaram o registro “para que quando tudo isso passe, a gente, nesse avanço de ocupação de espaço, possa apresentar esses shows nos teatros, no presencial, e ampliar nossas oportunidades”. A cantora destaca ainda que o momento é de se articular em ações pensadas, para que as conquistas permaneçam. “Porque pra gente é sempre muito difícil, muito suado obter apoio, fazer um disco, um audiovisual. Agora a gente teve oportunidade, estabelecendo parcerias com profissionais de vários segmentos”, reforça.

 

Completando 35 anos de carreira em 2022, Márcia pretende gravar um novo disco para marcar a data | Foto: Madson Silva / Divulgação

 

NOVOS PROJETOS

Embalada pelo que já foi possível materializar, mesmo em uma conjuntura crítica, Márcia Short revela que planeja os próximos passos para o pós-pandemia. “Eu já estou cheia de ideias. Agora que a gente sai desse primeiro momento e já começa a aparecer lá no fim do túnel o planejamento de uma retomada -  embora nesse ritmo de vacinação e com tanta coisa que está acontecendo em torno dessa vacina -, a gente tem que botar o joelho no chão mesmo e pedir que tudo ocorra como está previsto”, diz a artista, que em 2022 pretende lançar um novo trabalho, para marcar o aniversário de 35 anos de carreira e de resistência. “Quero sair em captação disso, continuar trabalhando com os projetos, com os editais, e em busca dessas oportunidades, pra que a gente possa realizar. Planejamento para realização”, detalha.

 

Para os projetos atuais e futuros, seus e de outros colegas, a cantora faz um apelo para que o público seja parceiro e valorize o trabalho. “Hoje é fundamental esse apoio ao artista. Sempre foi, e hoje se faz ainda mais. Então, as pessoas que têm acesso ao Bahia Notícias são pessoas que estão transitando pela internet, então peço que elas fortaleçam os projetos, que vão nas páginas desses artistas, curtam, sigam, vão lá no Youtube, acompanhem, não custa nada. Vai lá e se inscreve, porque essa é a moeda, essa é a maneira que a gente tem de incentivar, de construir, de fomentar, impulsionar essas carreiras”, insiste Márcia.  “Essa é a moeda, essa é a maneira que a gente tem de incentivar, de construir, de fomentar, impulsionar essas carreiras. Não adianta ler e dizer ‘poxa, isso é verdade, que injusto’. Não é sobre isso, é sobre caminhar pra reverter esse quadro. E essa ferramenta nos ajuda muito, então, vão lá, curtam, compartilhem, participem, propaguem”, conclui.


por Jamile Amine FOTO: Madson Silva 


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