Há dois anos e meio, Edi Maikel dos Santos Silva está preso preventivamente na França, de acordo com decisão do Tribunal de Annecy, no sudeste do país. Pelo menos oito vítimas prestaram queixa à Justiça e relataram ter sido agredidas pelo acusado, ao longo dos últimos 20 anos.
Camilla Araújo de Souza é sobrinha do acusado. O que não impediu os abusos, que começaram quando ambos moravam na Guiana Francesa, em 2002. Hoje, aos 28 anos, ela lembra das primeiras agressões.
"Tudo começou quando eu tinha seis anos, ele veio morar com a gente durante um tempo e foi a primeira vez que aconteceu", diz.
"Minha mãe surpreendeu a gente, ele tentando esfregar o pênis dele no meu bumbum. E quando a minha mãe viu isso, eu achei que ela iria brigar com ele mas, na verdade, ela me bateu e brigou comigo", relata.
"Ele é meu tio, irmão da minha mãe. Depois disso, os meus pais se separaram e a gente morou com a minha avó, depois com a minha tia. Quando a gente estava na minha avó, ele tentou fazer de novo. Mais uma vez tentando esfregar o pênis dele em mim", conta.
Ja morando na França, o assédio continuou. "Ele veio com um papo para cima de mim dizendo que uma mulher tem uma 'capinha' na vagina, que precisa tirar isso e se não for uma pessoa que tire, tem que ir no médico fazer uma cirurgia, que todas as mulheres passam por isso e que ele queria fazer isso comigo", diz.
"E eu caí no papo, foi assim que começaram as penetrações do pênis dentro da vagina, quando eu tinha 12 ou 13 anos. E depois disso, eu voltei para casa e, sempre que não tinha alguém por perto, ele tentava algo. Me chantageava (dizendo) que ia se matar se eu não fizesse tal coisa", continua.
"Ele me seguia, sabia os meus horários, uma vez me pegou de canto, com uma faca na mão, e disse que se eu não fugisse com ele para Lyon, iria se matar. E eu com medo acabei indo, porque a gente fica pensando: ele é tio, mais velho, tem que obedecer. Nisso, quando a gente estava em Lyon, eu fiquei um tempo sem menstruar e deu positivo", lembra a jovem.
A gravidez não se confirmou em um segundo exame, mas o trauma estava longe do fim. A RFI teve acesso a exames psicológicos feitos na vítima no âmbito do inquérito, que apontam "manifestações massivas de stress pós-traumático", "sofrimento persistente", "crises de ansiedade", "medo" e "sentimento de culpa".
Hoje, mãe de um casal de filhos, Camila teme pelo futuro. "O meu maior medo é de acontecer a mesma coisa, principalmente com a minha filha", diz.
"O que mais me revolta é você falar que é cristão, que acredita em Deus, mas não assume o que fez, então não está arrependido", lamenta.