Por Marcius Piropo, o Peso Pesado da Notícia
A manifestação cultural conhecida como "Paredão e Grau" tornou-se um fenômeno de polarização social, espalhando-se pelas periferias e grandes centros urbanos do Brasil. Para seus entusiastas, é a única opção de lazer acessível, um espaço de identidade e pertencimento. Para o observador crítico, no entanto, ela se apresenta como um amálgama de cultura vazia e irresponsabilidade, ostentando valores que, longe de serem subversivos no sentido construtivo, apenas flertam com o vulgar e o perigoso.
O Estigma e a Apropriação do "Marginal"
O cerne do problema reside, como bem pontuado, na apropriação de uma estética e um linguajar que mimetizam a marginalidade. A exibição de trejeitos de "marginais", as gírias carregadas e a veiculação de músicas pornográficas — ou, no mínimo, de conteúdo altamente sexualizado e depreciativo — criam uma bolha social que repele a ordem e a convivência. Este é um tipo de 'contra-cultura' que, em vez de propor uma alternativa construtiva ao status quo, apenas celebra o que há de mais primário e desaforado, rotulando os próprios adeptos com um estigma que lhes é prejudicial.
A música, que poderia ser uma ferramenta de crítica social ou ascensão, é reduzida, em muitos casos, a um ruído ensurdecedor que desrespeita o direito ao sossego e, pior, atua como trilha sonora para o risco.
O "Grau": Risco de Vida em Duas Rodas
Se o "Paredão" agride o sossego público, o "Grau" agride a segurança pública e a integridade física. O incentivo a empinar a moto — ou praticar o "grau" —, mesmo que em espaços supostamente controlados, é uma apologia direta à imprudência no trânsito.
Uma moto, veículo ciclo motor projetado para a estabilidade e locomoção em duas rodas, não foi concebida para ser conduzida apenas em uma. A prática do "grau" coloca em risco a vida do condutor, de pedestres e de outros motoristas. E o que é mais grave: a aceitação e a celebração dessa prática por um público desaforado em espaços públicos não apenas normalizam o perigo, mas o elevam à categoria de espetáculo, perpetuando um ciclo de irresponsabilidade motorizada que contribui para o trágico índice de acidentes e mutilações.
A Necessidade de Uma Cultura de Foco
O lazer acessível é um direito e uma necessidade, especialmente nas periferias. Contudo, é fundamental que o entretenimento não se confunda com a celebração da incivilidade e do perigo. É preciso que os jovens encontrem formas de expressão que não exijam a renúncia à segurança, ao respeito mútuo e à integridade dos costumes.
O que se manifesta no "Paredão e Grau" não é a força da cultura popular, mas o sintoma de uma carência de opções que leva à canalização da energia juvenil para manifestações que, no longo prazo, apenas reforçam a exclusão e o perigo. É uma cultura de vaidade efêmera e ruído ensurdecedor, que obscurece a verdadeira potência da periferia brasileira: a criatividade, a ética de trabalho e a força para construir um futuro digno.
É hora de trocarmos o barulho sem sentido pelo foco, o desrespeito pela responsabilidade, e o risco desnecessário por esporte e arte com disciplina.