O cenário político em Muniz Ferreira revela uma contradição gritante que se repete em municípios por todo o Brasil. Vereadores da Base Aliada ao Prefeito Professor Gileno se veem forçados a fazer cobranças públicas e até "se humilhar" no plenário para ter demandas básicas atendidas pelo Executivo, que demonstra inércia. O caso do Vereador Thiago Santos, o Bura do Taitinga, é emblemático.
Na sessão desta terça-feira (07), o vereador cobrou pela milésima vez o concerto urgente do parquinho a céu aberto no Taitinga, alertando para o perigo de pregos expostos a poucos dias do Dia das Crianças. A indignação se aprofunda no contraste: o prefeito planeja uma festa para as crianças do município, mas ignora a manutenção de segurança básica para a comunidade de Taitinga.
Não menos urgente, o Vereador Bura implorou: "por favor, tape pelo menos 01 buraco" na subida próxima à pizzaria de Neuza Bacana, local de intenso tráfego e frequentado por pessoas de outras cidades. Tais cenas levantam a questão que "não quer calar":
Por que a inércia da gestão não rompe a "Base Aliada"?
A resposta a esse paradoxo está no complexo e, por vezes, clientelista, jogo de poder local, que muitas vezes se sobrepõe ao interesse público imediato.
1. O Jogo do Acesso e da Sobrevivência Política:
Em cidades menores, o vereador é o elo direto entre o cidadão e os serviços. Manter-se na Base Aliada é crucial, pois é o único caminho para garantir o mínimo de acesso à máquina pública. Sair da base significa fechar a porta para a negociação de pequenos favores, a destinação de emendas (se houver), ou a indicação de cargos (patronagem) — fatores essenciais que o vereador usa para "prestar contas" ao seu eleitorado e garantir sua reeleição. A cobrança pública, como a feita por Bura do Taitinga, passa a ser um ato de fiscalização e prestação de contas ao eleitor, um esforço para mostrar que "está lutando" e que a culpa da ineficiência é do Executivo, e não dele.
2. A Fragilidade da Oposição:
Com a Câmara composta majoritariamente por aliados, a força do Executivo é quase absoluta. Um rompimento individual ou de um pequeno grupo de vereadores significa o isolamento político e a perda total de poder de barganha, sem impacto real na governabilidade do prefeito. Dessa forma, o vereador opta por "pisar em ovos" para tentar resolver os problemas de sua base eleitoral, em vez de se tornar uma oposição ineficaz.
Liberdade de Imprensa: O Pilar que Expõe o Jogo Político
É fundamental ressaltar que a própria existência desse debate público só é possível graças ao trabalho da imprensa local. As imagens e o teor da cobrança foram captados da transmissão ao vivo da Muniz FM, que, ao registrar os trabalhos do Legislativo, joga luz sobre as tensões e ineficiências do poder municipal.
Este é um exercício pleno da Liberdade de Imprensa, amparada pelo Artigo 220 da Constituição Federal, que assegura a livre manifestação do pensamento e da informação. Além disso, a cobertura da mídia está em consonância com o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) na ADPF 130, que consagrou a imprensa como um pilar essencial da democracia. É o jornalismo que transforma o desabafo isolado no plenário em uma cobrança pública que pode, finalmente, gerar pressão para a ação do Executivo.
O caso de Muniz Ferreira é um espelho da política brasileira, onde a lealdade partidária e os arranjos de poder local desafiam a lógica da representação popular e a eficiência administrativa.