Foto: Betto Jr./Secom |
Um local para abrigar os estudantes oriundos de comunidades quilombolas, na capital baiana. As Casas dos Estudantes Quilombolas são uma iniciativa inédita no Brasil, sendo a primeira, em Brotas, inaugurada em julho de 2018, e a segunda, no bairro do Canela, em outubro de 2022.
Fruto do Programa de Ações Afirmativas para a Comunidade Quilombola em Salvador, através da Secretaria Municipal da Reparação (Semur), as casas visam assegurar condições básicas de moradia a alunos de Ilha de Maré, matriculados de forma presencial em entidades de ensino superior sediadas em Salvador. São quatro comunidades insulares: Praia Grande, Botelho, Passa Cavalo e Bananeiras.
As estruturas acolhem estudantes que encontram dificuldades para frequentar as aulas, por conta do deslocamento de casa até a faculdade. A casa de Brotas tem capacidade para até 30 alunos, espaço amplo e confortável. O imóvel conta com sala de estudo, área de lazer, sete quartos, cinco banheiros e duas copas, além de localização próxima a pontos de ônibus e estação do metrô.
Já a casa do Canela, com capacidade para abrigar até 40 alunos, é composta por dois pavimentos, cinco quartos, quatro suítes, seis banheiros, área de serviço, cozinha ampla, salas de TV e de estudos, garagem e depósito. A residência está localizada em um bairro central, próximo à Universidade Federal da Bahia (Ufba), com transporte e acesso facilitados às várias regiões da cidade.
Resiliência – Aos 26 anos, a estudante Haiala Carvalho, da comunidade de Praia Grande, em Ilha de Maré, conta que chegou a pensar em desistir da universidade. Ela ingressou no curso de Enfermagem na Universidade Estadual da Bahia (Uneb), em 2017, quando a primeira casa ainda não havia sido inaugurada. Morando de aluguel com a irmã, o cunhado e outras pessoas em uma casa em Periperi, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, Haiala relembrou as dificuldades enfrentadas.
"Meu curso era diurno então, quando chegava em casa, por volta das nove da noite, ainda tinha que lavar roupa, preparar almoço, sobrando pouco tempo para os estudos. Foi um início complicado, mas consegui segurar a barra até o terceiro semestre, quando a casa foi inaugurada”, recorda.
A notícia da abertura do espaço, em 2018, alimentou as esperanças de Haiala. "Foi uma sensação de conquista, não só para mim, mas para outras duas pessoas, que passaram comigo no vestibular e sofriam a mesma situação. Quando a notícia veio, foi uma alegria imensa, de poder ter uma casa onde ficar, uma cama, um quarto, um conforto para estudar", disse a jovem.
“A casa veio para nos mostrar que somos capazes, que nunca devemos desistir, independente da dificuldade. É o impulso que faltava para entender nosso potencial, resistência, importância e que a gente pode tudo o que almeja, só precisa de oportunidade”, completou.
Garantia – Estudante de Farmácia na Universidade Federal da Bahia (Ufba), Milena Conceição, de 22 anos, também enfrentou desafios ao chegar em Salvador, em 2021. A primeira moradia, após ingressar na faculdade, foi em Simões Filho, de onde saía, muitas vezes antes do raiar do sol, para chegar a tempo na aula.
“Não tinha como sair da ilha para estar às 7h no Canela, então fui para a casa da minha tia. Mas pegar ônibus na BR é perigoso e cansativo. Chegava a passar 12 horas na rua e a internet não era das melhores, era muito complicado conseguir estudar”, explica.
Tudo mudou quando surgiu uma vaga em Brotas, onde a estudante permaneceu até a abertura da casa do Canela. Hoje, a universitária é só alegria. “Temos internet, estrutura boa, a gente pega o transporte da própria Ufba, porque o campus é variado. Tenho aulas no Canela, Ondina e Federação, então a localização está ótima", afirma.
Segundo Milena, a Casa do Estudante Quilombola mantém os alunos residentes na universidade. "Muitos não têm como pagar aluguel e ainda custear as despesas e os materiais para os cursos. Com a casa, temos a garantia de concluir a graduação, sem empecilhos”, comemora.
Secom PMS
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